terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Vai um Fiat 600?

Seguia a toda a velocidade, completamente fora de si, curvas e mais curvas, maldita ilha pensava, enquanto ao mesmo tempo desdobrava um velho mapa que mais parecia ser da época dos Romanos. Quanto mais olhava para o mapa, mais confuso e perdido se sentia, a noite começara a cair, o ponteiro da gasolina anunciava-lhe mais uma má noticia, o precioso líquido que fazia um velhinho Fiat 600 parecer um poderoso cavalinho vermelho, estava-se a acabar.
Se pudesse voltar a trás como tudo teria sido diferente, maldita a hora que conhecera as manas Antonella, que confusão meus deus, estava perdido, numa terra desconhecida, uma língua que não entendia, e só com 25,21€ no bolso, para não falar do Fiat 600. Só de pensar no fiat e no que lhe acontecera até lhe dava vontade de rir, mas os nervos e o medo impediam-no.
O Ezequiel tinha saído de uma terriola situada na Beira Baixa, com pouco mais de 400 euros o que seria suficiente para algum tempo, uma mochila cheia de roupa, e um pequeno caderninho de notas muito usado que o seu avô lhe oferecera quando era pequenito. Toda a vida usara esse caderninho, daí estar todo riscado e muito usado, era um objecto que o ligava ao avô, utilizava-o para anotar coisas importantes, como moradas, pensamentos, até alguns poemas que costumava inventar em noites de lua cheia, mas o mais importante, é que lá estava anotada a morada das manas Antonella, duas italianas da Sardenha que tinha conhecido na Internet.Decidira conhece-las, duas irmãs, estava apaixonado, uma delas até se despiu em frente ao computador, tinha de ir.
O plano era perfeito, iria de comboio até Lisboa, daí apanhava o avião para Barcelona, e depois era só ir de barco até á Sardenha. Assim fez e tudo corria ás mil maravilhas, estava excitadíssimo, até que tudo se alterou, quando ao chegar ao porto da Sardenha foi assaltado. Dois larápios meteram-lhe mão à mochila, enquanto despia o casaco e ao mesmo tempo comprava um mapa da ilha a um simpático velhote, numa loja junto ao cais. Ainda se meteu a correr atrás dos malandros, mas num piscar de olhos desapareceram, meus deus a carteira o dinheiro tudo desaparecera… Certamente as manas Antonella iriam ajudá-lo pensou, neste momento Ezequiel congelou, meu Deus o caderninho com o endereço estava também dentro da mochila. Estava metido num grande sarilho. Enquanto voltava a si, é com grande espanto que vê os larápios, um deles com a mochila ás costas, a fugir de dois polícias que os perseguiam de pistola em punho e já de língua de fora. Sem pensar no perigo põe-se a correr, atrás dos larápios, por umas ruas muito estreitinhas dobra uma esquina e outra e outra, e nisto vê-se metido numa grande confusão, de repente era perseguida com os ladroes da sua mochila e o pior, já não eram dois polícias mas sim o dobro. Ezequiel estava apavorado, sem saber o que fazer corria cada vez mais rápido, até que ao virar uma esquina depara com uma velhota que tirava uns saquinhos de compras do supermercado de dentro de um velho fiat 600.Motor ligado, porta aberta, polícias aos berros de pistola em punho, cheio de medo, numa terra estranha, o que acham?
Ezequiel de prego a fundo no fiat 600 da velha.

Dário

1 comentário:

  1. Está fantástico, Dário!
    Curto, económico, e utilizando de forma muito bem conseguida o factor surpresa.

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