sábado, 21 de janeiro de 2012

Resumo da história de amor de Zeca Perpétuo.

Serei um louco?
Um louco por navegar neste mar de amor?
Este mar de marés infindáveis que me leva à deriva sem rumo certo.
Sim sou eu, um barco sem leme perdido num mar bravio.
Navego de peito aberto, sem medo de naufragar, com esperança de poder um dia em teu peito atracar e o teu amor ganhar.

Sou um pescador, mas minha linha, meu anzol não caça peixe, minha linha, meu anzol espera pacientemente por pescar teu meu coração.
Nasci neste mar, cresci órfão, minha mãe foi meu pai, meu lar meu mar, aprendi linguagem e escrita na escola, mas não me ensinaram a simplicidade da vida. Dizem que a vida é tão simples que ninguém a entende, pois eu digo, quem não ama profundamente não vive, passa pelo mundo como uma gaivota que roça suas asas pela espuma do mar, sem nele nunca mergulhar.

Na língua dos pretos, não existe palavra para definir futuro, diga-me minha dona deste meu mar, como poderá haver futuro em qualquer língua, se você não existir em esse meu destino? Pensar trás muita pedra e pouco caminho, vivo e sobrevivo pensando em si, quanto mais pedras meu caminho tiver maior será o castelo que com elas construirei, maior será a casa do nosso mar. Minha existência é no presente, onde te tento caçar um descuido na existência, um sorriso, um abraço, uma dança. Quem canta seus males espanta, quem dança suas tristezas afasta, vem dançar comigo, vem balançar neste mar me quer. Sua mulher razinza, suas curvas e sua pele me enfeitiçaram, me deixe entrar em sua gordura, me liberte desta prisão, quando não está nas vistas está-me nos sonhos, e logo eu que preciso tanto de sonhar.

Me diz que é tarde, que o nosso tempo passou, estamos ambos velhos, este mar não escolhe idade, neste balanço não há tempo para entrar muito menos para sair. Meu pai perdeu seus olhos ao mergulhar nas águas do oceano para salvar sua amada, eu mergulho nesta sua ausência, que me cega o coração. Dona porque teima em mergulhar nessa solidão, me dê sua mão, venha dance comigo, liberte seu coração…

As gaivotas sublimes e incisivas, voam delicadamente roçando suas asas na espuma das ondas, ondas que num balançar vão e vem, assim como as lembranças. Essas gaivotas são minhas memórias. Quero, tenho que os matar, esses malditos pássaros que sem serem convidados entram porta dentro sem bater, sem pedir para entrar, aninhando-se no meu lar, apenas com presságio de chegada mas sem partida anunciada.
Esses pássaros malditos que me tiram o sono, me tiram as forças e me matem enjaulado neste momento efémero que faz a ligação entre um passado e um futuro inexistente. Meu avô sempre me disse, meu filho esses pássaros são uma gaiola construída por nós, na qual entramos, trancamos a porta e perdemos a chave. Nunca conseguirás mata-las a todas, elas são como são como as gotas da chuva num dia de dilúvio, onde as tuas lágrimas saem de todos os poros da tua pele e se confundem com as gotas. Não meu avô, ou as matos todas, ou encontro a chave para me libertar desta gaiola. Tenho de as matar, todas. Tenho de as matar todas.
Meu velho previu minha morte, hei-de morrer afogado em lençol faz de conta os panos virassem ondas de água, hoje eu sei que esses panos são meu amor por ti, essa água é a sua indiferença para comigo.

Esta nossa viagem neste nosso mar é intemporal, não existe hora de partida nem hora de chegada, seremos eternos viajantes numa história sem registo, perdida entre as encruzilhadas do tempo. O mar nunca secará, assim como o meu amor por ti.

Zeca Perpétuo.

Esta é dedicada à menina do sumol.

O ditado do dia


Deveras a cada dia que passa, me soa cada vez melhor os ditados, ou provérbios, como quiserem, que cruamente acabem por vingar e comprovar uma realidade e sabedoria popular que tendemos a ignorar, ou não. Não tendo eu qualquer legitimidade para sequer tecer os mais modestos comentários sobre este assunto de sabedoria popular, arriscando-me mesmo a levar uma valente reprimenda, por opinar sem ser convidado, mas tendo em conta as minhas habilitações literárias, doutorado em escárnio e mal dizer, e sendo detentor de uma brilhante quarta classe ainda que do tempo desse tal dito ditador papão, lancei-me numa pesquisa quase profunda na tentativa de encontrar factos da vida real que possam ser comprovados partindo de ditados.
Devo no entanto avisar que esta minha dissertação, como qualquer discurso político, ou vindo de algum mestre doutorado, não terá qualquer finalidade lógica, ou de modo algum servirá para esclarecer o leitor, funcionará sim, como uma tentativa de confundir ainda mais, as nossas já muito confusas mentes.
Não estou deveras confiante ao falar sobre sabedoria popular pois corro o risco de me meter em trabalhos, e como “quem semeia ventos, colhe tempestades”, deveria levar este ditado em conta e ficar caladinho. Esta mania de nos colocarmos em bicos de pés, das duas umas, ou levamos uma valente descompostura ou somos aplaudidos, mas como o outro costuma dizer “ que cada um sabe de si e Deus sabe de todos”, ora sabendo eu de mim e reforçado com o a ideia que deus ao saber de todos não se esquecerá certamente da minha pessoa, arrisco-me a falar de mais uns quantos ditados populares e tal como dizia o outro “quem não arrisca, não petisca”, assim sendo, eu a Risco.
Quer se acredite ou não sempre houve imagens estereotipadas na nossa sociedade, a que todos associamos a inteligência, sabedoria, conhecimento ou experiencia. Quem tal como eu não se recorda de levar umas fortes tareias, por interromper a conversa ou atrever-se simplesmente a questionar a ideia de algum senhor doutor? Certamente se recordam da nossas mães a mandar-nos calar, para que ouvíssemos as palavras sábias do senhor doutor, ao mesmo tempo que nos repetiam o ditado, “quando um burro fala o outro baixa as orelhas”.
Sempre me perguntei o porquê deste ditado, então se somos todos burros porque tem uns de baixar as orelhas enquanto outros ficam com elas bem arrebitadas, descriminação quadrúpede?
Às vezes acontecem coisas na vida de um homem que contado ninguém acredita”, nada mais errado, a questão da mentira. Se contares uma mentira a um primeiro indivíduo, este logicamente tende a não acreditar, ou melhor, sabe que é perfeitamente mentira, mas quando este primeiro indivíduo passa a mentira a um segundo, o segundo a um terceiro e assim sucessivamente, ao contrário do que possamos pensar a mentira não expande a sua dimensão ou aumenta avultadamente. Explicando, a partir do terceiro indivíduo, a mentira passou a ser verdade, aumentando a veracidade a cada nova particularidade que cada um acrescenta, e desde o momento que alguém afirme que “ vi com estes olhos que a terra há-de comer”, então ai o facto está consumado. É precisamente disto que eu tenho medo, mas como “o medo não é bom conselheiro”, mesmo que um gajo tenha medo, diz sempre que não tem, mas aí lá está, está a mentir.